Cuidados com as bezerras

A criação de bezerras, importante para a reposição de vacas produtoras nas propriedades leiteiras, é uma das mais complexas atividades na propriedade e que exige atenção permanente, principalmente nos primeiros 28 – 30 dias iniciais de vida (período neonatal) desses animais.

Introdução

A criação de bezerras, importante para a reposição de vacas produtoras nas propriedades leiteiras, é uma das mais complexas atividades na propriedade e que exige atenção permanente, principalmente nos primeiros 28 – 30 dias iniciais de vida (período neonatal) desses animais.

Trata-se de uma atividade de suma importância, com objetivo de transformar a bezerra, animal sensível, ainda não produtiva, em vaca adulta, de alta capacidade produtiva e reprodutiva evitando-se assim, gastos com os custos na compra de novilhas para reposição.

A bezerra representa a manutenção da atividade futura em uma propriedade leiteira. Será uma das futuras vacas produtoras responsáveis pela produção e pela manutenção do negócio. Sem vacas, não haverá produção. Sem bezerras, não se produzirá animais para reposição.

Dispensar cuidados e aprimorar as práticas de manejo indispensáveis para reduzir a incidência de doenças, consequentemente a mortalidade nas primeiras semanas de vida das bezerras não representa gastos, representa investimento em manutenção da lucratividade, longevidade e permanência da atividade.

A intenção desta série de tópicos sobre os cuidados essenciais com as bezerras tem como objetivo contribuir com informações colhidas dos mais gabaritados técnicos, experts no assunto, para mantê-los atualizados com as práticas recomendadas, contribuindo com informações que sirvam para orientações úteis aos seus cientes, bem como para facilitar o approach com criadores e técnicos no campo.

J. Gazal.

Tópico 1

Cuidados com as bezerras começam antes do nascimento.

Ao nascer, animais sadios mostram crescimento e desenvolvimento rápidos. Quando se tornam adultos, durante o período reprodutivo, eles mantêm suas capacidades produtivas e reprodutivas íntegras. Por isso, é importante iniciarmos os cuidados com as bezerras bem antes do seu nascimento, ou seja, iniciarmos os cuidados com as mães, durante a gestação, quando a futura bezerra ainda se encontra na fase final de desenvolvimento, próximo ao parto. Garantimos assim o nascimento de animais sadios, íntegros e de bom peso ao nascer.

A boa prática recomenda ações preventivas, cuidados com a mãe, que podem evitar problemas indesejáveis para a bezerra ao nascer, como produção de colostro de baixa qualidade, nascimento de bezerras fracas, com defeitos e outros que podem interferir no desempenho futuro da recém-nascida.

Secagem

Atenção especial deve ser dada à secagem da vaca, que deve ser realizada 58 a 60 dias antes da data estimada do parto. Uma secagem bem feita é importante para o nascimento de bezerras sadias, sem defeitos e de bom peso ao nascer.

Quando realizada adequadamente, a secagem, como também as vacinações da mãe no período seco, são práticas de primordial importância, dentre outras coisas, para a produção de colostro em volume adequado, de boa qualidade imunológica, garantindo a manutenção de uma bezerra sadia, para evitarmos óbitos nas primeiras semanas de vida. Colostro de boa qualidade é que garantirá uma excelente fase produtiva na vaca futura.

Dentre os cuidados com a vaca, não podemos esquecer, principalmente, das vacinações anuais contra problemas reprodutivos, que são muito importantes contra a incidência de doenças, como a Brucelose, Leptospirose, Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR), Diarreia Viral Bovina (BVD), Campylobacter e Clostridioses, dentre outras, e que podem causar desde um aborto até a infertilidade. A vacinação do rebanho com Bovigen® Repro Total SE, a vacina reprodutiva mais completa do mercado, na dosagem de 5,0 mL por via intramuscular, é a opção de vacinação segura.

Um protocolo que sugerimos é a utilização da vacina Bovigen® V4J5 nas mães, no momento da secagem das vacas, aos 60 dias antes da data prevista para o parto, sendo a vacinação importante para o controle da diarreia neonatal causada por cepas de E. coli, Salmonella, vírus e outros Gram negativos, bem como para controle dos problemas respiratórios (pneumonias), que ocorrem predominantemente a partir dos primeiros 30 dias de vida nas bezerras.

Considerando que os bezerros nascem totalmente desprovidos da proteção de anticorpos, que sua sobrevivência dependerá da imunidade passiva adquirida da mãe através do colostro e que o problema nos bezerros ocorre muito precocemente, mais intensamente entre o 7º e o 14º de vida, não há tempo suficiente para que uma vacinação nos recém-nascidos desenvolva proteção adequada para evitar casos de diarreia neonatal e problemas respiratórios.

Por isso há a necessidade de vacinar a mãe, para que ao mamar o colostro, a bezerra receba anticorpos específicos. Uma alta porcentagem, cerca de 60%, do colostro fornecido às bezerras nas propriedades é de baixa qualidade imunológica, o que expõe esses animais a doenças comuns logo após o nascimento, principalmente diarreia neonatal (E. coli; Salmonella), bactérias complicadoras dos problemas respiratórios (M. haemolytica e P. multocida) e a outros patógenos (vírus e bactérias), que ocorrem nesse período. Fato que mais uma vez justifica a necessidade de vacinação das mães previamente ao parto. Uma boa recomendação é a vacinação das vacas na secagem (60 dias antes do parto) com Bovigen® V4J5, 5,0 mL por animal, via intramuscular. Nos animais primovacinados, administrar uma dose de reforço de 21 a 30 dias após a primeira dose.

Vacas que não tiveram contato com agentes causadores da diarreia neonatal e não forem vacinadas, não desenvolvem anticorpos específicos contra esses agentes. Por isso é necessário o contato através da vacinação ou o contato natural pelo meio ambiente.

Vacinação da vaca

A recomendação para a diarreia neonatal e os problemas respiratórios, é praticar a vacinação com Bovigen V4J5, 60 dias antes da data prevista para o parto, pois a vacina precisa de, aproximadamente, 15 dias para promover o desenvolvimento da imunidade e a produção dos anticorpos. Precisamos considerar mais 15 dias necessários ao processo da colostrogenese, para que no pré-parto já tenhamos picos de anticorpos no sangue que possam ser transferidos ao colostro.

A partir do primeiro mês de existência, as bezerras estão muito suscetíveis e expostas aos problemas respiratórios, por isso devemos considerar também a vacinação das mães no pré-parto para a proteção das filhas.

Detalhe importante a ser considerado e que justifica a vacinação das mães no pré-parto é que as provas de avaliação da qualidade do colostro não tipificam quais anticorpos específicos para os diferentes agentes infecciosos estão presentes no colostro. Isso faz com que, muitas vezes, a avaliação mostre um colostro dentro do padrão normal, contendo o nível de IgG acima de 50mg/dl perfeitamente dentro do padrão, entretanto, esse colostro pode não conter anticorpos para determinados agentes, como os que causam a diarreia, por exemplo. Se a vaca não tiver contato com o agente causador da BVD e não for vacinada, o colostro não terá anticorpos específicos para esse agente infeccioso. Por isso são importantes a vacinação prévia e o contato natural da mãe com patógeno no meio ambiente.

A vacinação é, portanto, uma garantia de proteção pela colostragem quando se deseja uma boa transferência de anticorpos específicos via colostro (imunidade passiva).

Alocação no piquete maternidade

As vacas em fase final de gestação, mais especificamente aos 30 dias que antecedem a data estimada do parto, devem ser alojadas nos piquetes maternidade. Muitos técnicos recomendam 45 dias para as novilhas de primeira cria.

O piquete maternidade, local onde a vaca isolada receberá a dieta de transição com o objetivo de prepará-la para um parto tranquilo e para o novo período de lactação que se aproxima, deve oferecer condições ambientais propícias. Portanto, deve ser limpo, seco, bem drenado, seguro, com boa cobertura vegetal, boa disponibilidade de sombra e água para manter as condições de bem-estar animal adequadas. Deve ser de fácil acesso e localizado próximo às instalações para facilitar o acompanhamento do animal na fase final da gestação e para ser rapidamente alcançado, caso haja necessidade de auxílio durante o parto.

A alocação dos animais nos piquetes ou pastos maternidade, além de proporcionar facilidade de acesso às observações e acompanhamento da fase final da gestação, facilita também, o manejo dos protocolos de vacinação e os controles antiparasitários.

Tópico 2

Nascimento

Ao nascer, as bezerras são animais extremamente frágeis, suscetíveis de ter seu organismo infectado por uma variedade enorme de agentes patogênicos, como vírus e bactérias, principalmente. A bezerra nasce completamente desprotegida contra esses agentes infecciosos, desproteção essa, causada por certa particularidade das fêmeas bovinas, que apresentam uma placenta intransponível, constituídas de várias camadas, que formam uma verdadeira barreira placentária impermeável o suficiente para impedir a passagem de bactérias, vírus e qualquer outro agente infeccioso durante a gestação. Importante, portanto, para evitar uma infecção fetal. Apresenta, entretanto, como fator negativo, como desvantagem, o impedimento também da passagem de macromoléculas (imunoglobulinas), anticorpos maternos durante a gestação, fazendo com que a cria, ao nascer, esteja completamente desprovida de proteção imunológica, enfraquecida, permanecendo suscetível a contrair inúmeras doenças comuns a essa fase inicial da vida, como diarreias, broncopneumonia, inflamação umbilical, artrites sépticas, principalmente nas articulações dos membros anteriores, dentre outras complicações, e que muitas vezes levam o animal a óbito.

O desenvolvimento de uma resposta imune após o nascimento (imunidade ativa) através do contato com o ambiente é um processo demorado, depende de um longo período para se formar. É inicialmente lento após o primeiro contato, se tornando mais forte e rápido após o segundo contato. Assim, vai se formando lentamente. A bezerra amadurece imunologicamente na puberdade a partir dos 4-5 meses, até aos 8 meses de idade. Esse prolongado espaço de tempo faz com que as bezerras se tornem muito sensíveis, suscetíveis aos micro-organismos do meio ambiente no início de suas vidas. Dependem, para sua proteção, inicialmente, da imunidade passiva que recebem via colostro e das futuras vacinações.

Cuidados com o umbigo para evitar inflamação

Atenção especial deve ser dada ao tratamento do umbigo para evitar inflamação umbilical, responsável por altas taxas de mortalidade e perda de desempenho dos animais sobreviventes.

Cuidados especiais devem ser observados também, no sentido de evitar a formação de miíases (bicheiras) no umbigo, muito comuns nesse período, com o uso de larvicidas.

Uma vez que essa constituição anatômica serve de comunicação entre o meio ambiente e o interior do organismo desprotegido da bezerra, facilita, sobremaneira, a invasão por agentes infeciosos causadores de doenças, principalmente infecções umbilicais responsáveis por altas taxas de mortalidade e que podem, se não tratadas convenientemente, levar o animal a óbito. Esses cuidados são de extrema importância.

O umbigo é a estrutura de comunicação entre mãe e feto durante o período de gestação. Nutrientes e oxigenação chegam à futura bezerra, durante essa fase, através da corrente sanguínea, via cordão umbilical. Essa funcionalidade deixa de existir, pelo fechamento das artérias e veias utilizadas na comunicação entre mãe e feto, pela perda dessa função logo após o nascimento.

O umbigo, até que seque completamente, serve de porta de entrada no organismo para uma grande variedade de patógenos, que podem causar uma série de enfermidades ao animal e até levá-lo a óbito. É o que ocorre muitas vezes quando o umbigo não é adequadamente tratado logo após o nascimento da bezerra. Problema, como a onfaloflebite, por exemplo, pode impedir ou retardar a cicatrização, mantendo comunicação com o meio exterior, permitindo, assim, a invasão do organismo por micro-organismos patogênicos.

Além das doenças infecciosas, as miíases ou bicheiras, hérnia umbilical e defeitos congênitos, representam grandes riscos à saúde das bezerras quando a cura do umbigo é negligenciada.

A chamada cura do umbigo, associada à correta administração do colostro, significam medidas indispensáveis para a manutenção das boas condições de saúde dos bezerros e que representa garantia do bom desenvolvimento desses animais até a fase produtiva. 

Corte do cordão umbilical

Procedimento muito importante para evitar as contaminações e evitar contaminações por agentes infecciosos e as, não menos importantes, formações de bicheiras. Esse é o tratamento do umbigo realizado imediatamente após o nascimento.

O corte do cordão umbilical deve ser realizado quando o cordão se apresenta com um comprimento muito longo, o suficiente para facilitar a contaminação por contato com o piso, outros locais e objetos contaminantes, o que predispõe a bezerra a contrair infecções umbilicais, favorecendo a mortalidade nas primeiras semanas de vida. O comprimento ideal deve ser mantido entre 5 a 10 centímetros, aproximadamente. Um umbigo longo proporciona contato com o piso, facilitando a contaminação. Quando muito curto, favorece a migração de agentes infecciosos para o interior do organismo da bezerra rapidamente. O corte deve ser realizado com auxílio de pinça e tesoura.

Descontaminação do material:

- Desinfetantes:

- Hipoclorito de sódio 1%: solução prática, de baixo custo, consiste na imersão do material em uma solução de Hipoclorito de Sódio a 1%, que pode ser preparada na própria fazenda. Manter o material imerso no Hipoclorito durante o período de, aproximadamente, 24 horas antes de usar.

Obs.: Para preparar a solução de Hipoclorito a campo, basta dissolver duas colheres de água sanitária em um litro de água.

- Outros produtos: outra opção se refere ao uso de outros produtos desinfetantes, seguindo as instruções das respectivas bulas.

- Flambagem: opção para uso quando se deseja utilizar o material rapidamente, é a flambagem com álcool absoluto. Para tanto, basta colocar o material imerso no álcool em uma bandeja rasa, mantendo a chama acesa até que todo o álcool seja consumido. Esfriar o material antes do uso.

Cura (tratamento) do umbigo

Para realizar o tratamento ou cura do umbigo, a melhor opção é proceder ao tratamento com soluções de iodo a 10% e a 5%, consideradas as mais eficazes. Solução a 2% é considerada muito fraca.

O protocolo recomendado para o primeiro dia é a realização de duas imersões do umbigo em solução de iodo a 10%.

Para os dias subsequentes, utilizar a solução de iodo a 5%. Tratar duas vezes ao dia, diariamente, até a mumificação e queda do umbigo.

A solução de iodo a 10% é considerada muito forte, podendo causar irritação e até formação de abcessos quando utilizada diariamente, durante períodos mais prolongados. Por isso é recomendada apenas para as duas imersões no primeiro dia, ao início do tratamento

Para a realização dos tratamentos, utilizar um copo medidor, fazer a imersão total do umbigo na solução. Manter o cordão umbilical totalmente imerso na solução por, aproximadamente, 20 segundos. Repetir esse procedimento diariamente, duas vezes ao dia, até a secagem e queda do cordão.

Opção de solução desinfetante, que pode ser manipulada em qualquer farmácia ou mesmo na própria propriedade, com a seguinte opção de composição:

  • Iodo metálico: 10 g;
  • Iodeto de potássio: 3 g;
  • Álcool etílico: 100 mL;
  • Água destilada.

Durante o preparo, dissolver o Iodeto de Potássio na água destilada, adicionando, em seguida, o Iodo Metálico, lentamente, até que se dissolva completamente. Para completar, adicionar o Álcool Etílico até completar o volume de 100 mL.

Imergir o umbigo nesta solução diariamente, durante aproximadamente 1 a 2 minutos até obter a secagem completa do cordão umbilical.

Fatores de risco que favorecem as infecções do umbigo (onfalites):

            - Ruptura ou corte muito longo do umbigo: favorece a contaminação;

- Corte muito curto: encurta o caminho para as bactérias penetrarem, favorecendo também a contaminação;

- Desinfecção ou cura inadequada.

As infecções umbilicais estão veiculadas às falhas no manejo (manejo inadequado) e relaxamento com a limpeza do ambiente, desde a maternidade até o bezerreiro, locais de permanência constante das bezerras desde o nascimento.

Principais bactérias, normalmente encontradas, contaminando esse ambiente:

            - Escherichia coli;

            - Salmonella spp;

            - Streptococcus spp;

            - Staphylococcus spp;

            - Fusobacterium;

- Klebsiella, dentre outros Gram negativos.

Procedimentos a serem observados:

- Recomenda-se proceder pelo menos duas inspeções semanais para detectar precocemente qualquer sinal da doença e realizar o tratamento imediato;

- Observar em todo o sistema de criação dos bezerros:

- Ao notar qualquer alteração na área do umbigo, fazer a palpação e observação para detectar a presença de animais com aumento de volume na região umbilical;

- Observar o estado geral dos animais.

Observações:

1 – Aumento de volume da região umbilical e estado geral sem alteração: fazer limpeza e desinfecção local. Proceder ao tratamento sistêmico somente em caso da presença de febre.

2 – Aumento de volume, dor, aumento da sensibilidade, aumento da temperatura na região umbilical acompanhado de comprometimento do estado geral: proceder ao tratamento com antibiótico e anti-inflamatório.  

Tópico 3

Colostragem

A sobrevivência das bezerras, principalmente nos primeiros 30 dias de vida, depende exclusivamente dos anticorpos que recebe da mãe através do colostro (imunidade passiva) durante a colostragem. Por isso há a necessidade de vacinação das mães na fase final da gestação.

É prioritário o manejo correto da colostragem no processo de criação das bezerras. A taxa de sobrevivência das recém-nascidas depende de uma colostragem correta, adequada. O colostro não representa apenas um simples fornecimento de anticorpos, fornece também outros componentes imunológicos que são adquiridos de forma passiva. Dentre eles podemos citar as células maternas, uma série de hormônios, o hormônio IgF1 semelhante à insulina tipo 1, por exemplo, que contribui para o aumento das vilosidades das células intestinais responsáveis pela absorção de nutrientes da dieta; o que vai proporcionar maior ganho de peso e melhor desempenho produtivo desses animais; substâncias imunológicas, citocinas, células mensageiras responsáveis pela transmissão das mensagens entre as células do sistema imunológico das bezerras, além de  proteínas, minerais e vitaminas. O colostro apresenta, portanto, elevado valor nutritivo para as bezerras.

 A colostragem correta é uma prática de manejo extremamente importante, é o que vai garantir a vida das bezerras nos primeiros 30 dias do nascimento. Deverá ser realizada duas vezes ao dia, pelo menos durante os três primeiros dias de vida das bezerras.

Qualidade do colostro

A qualidade imunológica do colostro deve ser averiguada regularmente. Sabe-se que cerca de 60% do colostro produzido nas propriedades é de baixa qualidade, responsável, portanto, por falhas no mecanismo de proteção das bezerras que geram problemas de saúde e de desempenho futuro desses animais traduzindo-se em prejuízos para a atividade.

Colostro de qualidade imunológica adequada deve apresentar ao colostômetro, valores iguais ou superiores a 50 mg de IgG por decilitro ou 50 g de imunoglobulina por litro ou 5,5 g/dl de proteína total no soro, dependendo do tipo de colostrômetro ou refratômetro utilizado.

O manejo correto do colostro é imprescindível para a transmissão dos anticorpos maternos (imunidade passiva). Para tanto, é extremamente importante fornecer colostro de primeira ordenha, obtido preferencialmente de vacas maduras, de 2ª e 3ª cria em diante, imediatamente após o nascimento, para garantir a transferência da imunidade passiva às bezerras e permitir que os anticorpos alcancem os intestinos o mais rápido possível, antes que bactérias causadoras da diarreia colonizem as vilosidades intestinais.

Esse colostro obrigatoriamente tem que ser de boa qualidade.

Dado ao exposto, torna-se imprescindível o estabelecimento de cuidados especiais a serem tomados como prioridades para uma boa colostragem:

Higiene da coleta

Atenção com a higiene durante a coleta do colostro. Falhas nos cuidados com a higiene durante a coleta interferem sobremaneira no nível de contaminação microbiológica desse colostro entre a data da coleta e o fornecimento às bezerras.

Um alto teor de micro-organismos gera reações com os anticorpos, interferindo sobremaneira na absorção das imunoglobulinas, podendo resultar em falhas na transferência da imunidade passiva.

Para evitar ou reduzir os níveis de contaminação bacteriana no colostro é necessário dar atenção especial aos cuidados de higiene e desinfecção das áreas (locais da ordenha para coleta), dos utensílios e de equipamentos que contribuem para contaminar e exacerbar o processo contaminante.

Manter a higienização do local do parto e da ordenha é uma medida muito importante nesse processo.

Proceder a lavagem e desinfecção de baldes e mamadeiras que representam alto poder de contaminação, além de outros utensílios utilizados durante a ordenha. O processo ideal consiste em mergulhar esse material em uma solução contendo cloro, muito fácil de ser preparada.

Preparo da solução:

Basta colocar uma colher de água sanitária em um litro de água limpa e mergulhar o material nessa solução por, aproximadamente, 10 a 12 horas (de um dia para o outro). Em seguida, enxaguar em água limpa imediatamente antes de utilizá-lo.

Lavar e desinfetar úbere e tetas.

É aconselhável lavar, secar, realizar o pré e pós-dipping nas tetas, respectivamente ao início e ao final do processo da ordenha do colostro.

Remover sujeira do local da ordenha, lavar o piso e desinfetar. O uso da cal é mais praticado nos bezerreiros de diversas propriedades. Trata-se de uma substância que altera o pH da área aplicada para muito alcalino, evitando assim o desenvolvimento de algumas cepas de bactérias. Muitos micro-organismos, entretanto, sobrevivem a esse processo. Outra forma bastante conhecida, mais eficiente do que o uso da cal é a utilização de desinfetantes químicos. Em alguns bezerreiros, além da utilização de produtos desinfetantes, é utilizada também a vassoura de fogo, antes de repovoar com novos animais.  

Evitar derramamento de colostro nos pisos.

Evitar ordenhar vacas suspeitas de mastites. Não fornecer leite contaminado às bezerras recém-nascidas. Identificar e apartar vacas positivas.

Proceder os cuidados de desinfecção recomendados para as teteiras e demais equipamentos de ordenha.

Tópico 4

Manter a limpeza e a desinfecção dos bezerreiros

Prática muito importante e que contribui para a manutenção da saúde dos animais e   que é bastante negligenciada nas fazendas é a higienização e a desinfecção dos bezerreiros. Problema sério e que acontece frequentemente, muito provavelmente por desconhecimento de sua importância e por falta de um protocolo padrão pré-estabelecido para a higienização do bezerreiro e dos equipamentos utilizados no aleitamento, recipientes e outros mais.

Recomendação importante de manejo se refere à retirada da cama e da matéria orgânica, terra, restos de fezes etc. do piso dos bezerreiros para facilitar a ação dos desinfetantes utilizados na limpeza.

Recomendação técnica e que tem demonstrado excelentes resultados é a utilização de bezerreiros móveis, que permitem a troca de lugar semanalmente, eliminando o manejo das trocas de cama e possibilitando, assim, um vazio sanitário do local substituído. Outra opção consiste na construção de bezerreiros, de piso elevado, com ripas de madeira.

Limpeza das baias

A limpeza das baias com água e detergentes comuns não é suficiente para eliminar todos os agentes causadores de diarreias e inflamações umbilicais. A melhor opção para tal é utilizar produtos à base de glutaraldeído e/ou produtos à base de Dióxido de Cloro, que eliminam Oocistos de Criptosporidiose, causadores de diarreias.

Vassoura de fogo: prática utilizada em alguns bezerreiros, que além da aplicação de desinfetantes, ainda passam a vassoura de fogo antes da introdução de novos animais.

Colocação da cama:

A meta é proceder as trocas das camas o maior número de vezes possível durante a semana. O ideal seria trocar as camas diariamente.

Tópico 5

Colostragem

Quantidade - Volume de colostro

O volume de colostro a ser fornecido às bezerras logo ao nascer é calculado, sobre um percentual do peso da bezerra, convertido em um volume correspondente a 10% - 15% do seu peso corporal. Tomando-se por base o percentual de 15% do peso (tendência atual), uma bezerra de 40 Kg, por exemplo, deverá receber um total de 6 litros do colostro nas primeiras 6 horas de vida, observando­-se para que o maior volume, os primeiros 4 litros sejam fornecidos logo na primeira administração e os dois litros restantes, na segunda, 4 horas após a primeira.

Para o processo da colostragem recomenda-se o uso de mamadeira ou balde apropriados, completamente limpos e desinfetados, indicados nos casos de:

- Morte da vaca durante o parto;

- Produção insuficiente de colostro pela vaca;

- Bezerros com dificuldade de mamar (vacas de tetos grandes e úbere pendulado).

Nos casos de rejeição à mamada no balde ou na mamadeira, como recurso adicional, pode-se fazer o uso da sonda naso esofágica, muito útil também em grandes rebanhos quando se deseja acelerar o processo para tratar um grande número de animais.

O uso da sonda permite também minimizar falhas na transmissão da imunidade passiva, por problemas de manejo durante o fornecimento do colostro, causado por funcionários impacientes, apressados e que não dão ao bezerro, tempo suficiente para uma mamada do volume adequado. A eficiência da mamada depende do bom manejo do sistema utilizado para isso.

Estima-se que há uma variação no percentual de eficácia da colostragem, independentemente do sistema utilizado para o fornecimento do colostro: através de sonda, da mamadeira ou pela mamada diretamente na mãe, como segue:

Mamada na mãe: 87%

Mamadeira: 89%

                                      Sonda: 90%

Consequência de falha na transferência da imunidade através do colostro (baixo volume e baixa qualidade) é o grande risco para a incidência das várias doenças que ocorrem logo nas primeiras semanas de vida das bezerras. O fornecimento de um colostro de boa qualidade, no volume adequado, está diretamente relacionado à sobrevivência, à saúde e a uma melhor produção de leite pela futura vaca.

Tabela sobre a taxa de sobrevivência

O fornecimento de quantidade adequada (volume) do colostro evita as falhas na transferência da imunidade passiva, contribuindo consequentemente para:

- Redução dos casos de diarreia vinculada à má colostragem;

- Menores taxas de inflamações umbilicais;

- Redução dos casos de doenças respiratórias, a partir do primeiro mês de vida.

Maiores volumes nas quantidades de colostro fornecido estão diretamente relacionados a maiores taxas de produção após a primeira parição e a segunda lactação e relacionadas ainda, a maior produção da futura vaca.            

Tópico 6

Manter a qualidade do colostro

É muito importante fornecer colostro o mais rápido possível, logo após o nascimento. Alguns cuidados especiais, entretanto, devem ser observados para a coleta e conservação do colostro.

Dentre estes, a rapidez da coleta, que deve ser feita logo no momento do parto. A coleta realizada imediatamente após o parto é imprescindível para a obtenção de um colostro de boa qualidade. A demora para início da coleta representa tempo suficiente para que a vaca entre em lactogênese e inicie a produzir leite, processo que consequentemente provocará diluição do colostro, resultando em colostro de qualidade inferior, com baixa concentração de anticorpos. Ocasiões em que a parição ocorre a noite e a ordenha do colostro é realizada na manhã seguinte, esse é um fato não muito raro de acontecer nas fazendas de leite.

Conservação e armazenamento

O colostro pode ser utilizado imediatamente após o parto, através da mamada direta, para um melhor aproveitamento pelo bezerro ou coletado e armazenado em pequenas quantidades para ser utilizado mais tarde em outras ocasiões necessárias em outros recém-nascidos.

É importante observar para que o colostro seja a primeira mamada, seja o primeiro alimento ingerido pelas bezerras logo após o nascimento. Não permitir que a bezerra ingira nem mesmo água antes de ingerir o colostro. A elevada capacidade de absorção do intestino delgado das recém-nascidas as tornam muito suscetíveis às infecções intestinais, antes de ingerirem o colostro.

O colostro de primeira ordenha coletado imediatamente no momento do parto é o que proporciona melhores possibilidades da obtenção de um produto de boa qualidade. Bem coletado, pode ser armazenado em freezer para uso a posteriori, destinado para o fornecimento a outras bezerras ao nascer.

Para os bezerros/as que não puderam mamar o colostro de suas mães, pode-se utilizar o recurso de armazenamento do colostro de outras vacas, trata-se de uma forma de garantir a imunidade passiva desses animais.

Quando armazenado sob refrigeração, entretanto, deve ser administrado até, no máximo, 48 horas depois da coleta. Quando congelado poderá ser utilizado até um período máximo de 6 meses.

Em ambos os casos deve-se proceder os cuidados observados para o descongelamento. Descongelar lentamente em banho maria antes do fornecimento aos animais. Temperaturas entre 36 e 38 graus Celsius são consideradas adequadas para o fornecimento aos bezerros. Um cuidado especial deve ser dado para evitar submeter o colostro a temperaturas mais elevadas, pois o aquecimento elevado pode provocar a perda da atividade imunizante do colostro.

Para maior e melhor absorção das imunoglobulinas presentes no colostro pelo organismo é importante que o fornecimento, ou a primeira mamada, seja realizado até as primeiras seis horas do nascimento, tempo considerado como o de melhor nível de absorção pelo organismo das bezerras. Após as 6 horas e com o passar do tempo, o nível de absorção vai decrescendo de tal maneira que cerca de 12 a 18 horas após o nascimento já estará bastante prejudicado.

Avaliação da transmissão da imunidade passiva via colostragem

Considerando que os valores de proteína total (PT) observados no soro das bezerras permanecem constantes durante a primeira semana de vida, a avaliação da qualidade da transferência da imunidade passiva é estabelecida pela leitura e equiparação com os valores da PT obtidos no soro das bezerras entre o 2º e o 7º dia de nascidas.

Essas avaliações podem ser facilmente realizadas no soro, com o auxílio de refratômetros que permitem determinar o teor de proteína total (PT) no soro, cujos valores convertidos representam uma estimativa confiável da qualidade da transferência da imunidade passiva aos recém-nascidos.

Para tanto, é necessário dispor do seguinte material:

Tubos para coleta de sangue sem anticoagulante:

Para facilitar a coleta pode ser também utilizado tubo de vácuo com canhão adaptador de agulha, aqueles muito comuns utilizados em laboratórios de análise para coleta de sangue em humanos. Os tubos de coleta devem ter capacidade para até 10 mL de sangue.

Seringas e agulhas:

Agulhas, nas medidas 30 x 8 são adequadas para a coleta. Pode ser também utilizado cateter quando coletar usando o processo a vácuo. Recomenda-se utilizar material descartável para fazer as coletas.

Observar os seguintes procedimentos durante o manejo das coletas:

1 – Desinfecção da pele no local de introdução da agulha. Usar algodão embebido em álcool 70% para evitar reações locais e possível formação de abscesso.

2 – Coletar cerca de 10 mL de sangue, transferir para os tubos sem anticoagulante. Na transferência para o tubo de coleta, deixar o sangue escorrer suavemente pela parede do tubo.

Identificar as amostras, etiquetando-as com identificação da bezerra e da mãe, data e demais dados pertinentes.

3 – Colocar o tubo em repouso, em temperatura ambiente até a completa coagulação e a separação do soro, que será observado na superfície do tubo. O plasma permanece na parte inferior. O período de repouso pode durar de 12 a 24 horas. Quando houver uma centrífuga disponível é possível se obter a separação quase que imediata (em poucos minutos) em plasma e soro.

Mensuração da proteína total (PT)

1 – Refratômetro ótico:       

A determinação da proteína total (PT) pode ser realizada no soro com auxílio de um refratômetro ótico, equipamento de custo acessível e facilmente encontrado no mercado. Apresenta uma escala de 0 a 12 em g/dl de PT. É de fácil manuseio.

 Para a mensuração da PT adotar o seguinte procedimento:

 - Com o auxílio de uma pipeta, retirar o soro do tubo e colocar uma gota no local apropriado do aparelho;

- Fechar a abertura e fazer a leitura na escala do aparelho, observando através do visor. O resultado é dado em g/dl de proteína bruta.

Valores iguais e superiores a 5,5g/dl de PT no soro são considerados para uma transferência de imunidade passiva adequada. Valores inferiores significam falhas na transmissão da imunidade, representando índices inferiores de 1000 mg/dl de IgG no sangue.

 2 – Refratômetro digital:

Equipamento mais sofisticado, de leitura rápida também em g/dl de PT, mostrado diretamente na tela do aparelho. Boa opção quando um grande número de análises é necessário. Trata-se, entretanto, de aparelho de custo mais elevado do que o refratômetro ótico e de aquisição não muito fácil no mercado local.

                                                          

3 – Refratômetro de brix:

Nas propriedades que possuem o refratômetro de brix é possível a utilização do aparelho na avaliação da transferência da imunidade passiva. Esse aparelho apresenta uma similaridade de formato com o refratômetro ótico acima mencionado.

            A leitura do resultado, entretanto, é realizada em uma escala diferente, com uma variação de Zero a 30, mostrada em percentagem (%) ou zero Graus Brix a 30 Graus Brix. Para a avaliação é necessário estabelecer um ponto de referência para interpretação do resultado. Nesse aparelho estabeleceu-se o valor de 8,4% ou 8,4 Graus Brix como ponto de corte, equivalente a 5,5 g/dl, valor limite abaixo do qual significa falhas na transmissão da imunidade passiva. Valores abaixo desse limiar significam níveis de IgG inferiores a 10g/L Indicando, portanto, falhas na transferência da imunidade passiva.

Há método mais simples baseado na medida da densidade do colostro de custo mais baixo, porém de resultados menos precisos, indicando, através das cores verde, amarela e vermelha, se o colostro é de boa qualidade, de qualidade moderada ou de baixa qualidade.

Medir a qualidade do colostro é uma excelente prática para o monitoramento do manejo e avaliar a qualidade da transferência da imunidade passiva.

Observação importante:

Nunca realizar a avaliação de transferência da imunidade passiva em soro de animais desidratados e/ou de animais que recebem substitutos do colostro.

Tópico 7

Controle das diarreias

A diarreia pode ser definida como uma síndrome resultante da interação de diversos fatores relacionados:

            - À imunidade;

            - Ao ambiente;

            - À nutrição;

            - Aos micro-organismos patogênicos.

Diarreias representam uma das mais importantes causas de mortalidade em bezerras durante o primeiro mês de vida. Trata-se de um sério problema sanitário, com perdas econômicas relacionadas com:

- Os custos dos tratamentos e profilaxia da doença;

- Altas taxas de mortalidade: perda de animais com diarreias de todos os tipos são comuns e ocorrem em todos os rebanhos com frequência elevada. Índices elevados, em torno de 60% a 80% de incidência, são facilmente alcançados.

Bachman, 1977, e outros autores, estimam que a mortalidade mundial de bezerros creditadas às diarreias varia de 10,3% a 34%. Segundo técnicos especializados no assunto, praticamente todas as bezerras apresentam ou apresentarão quadro de diarreia durante o período neonatal, com elevada frequência, principalmente entre o 7º e o 14º dia de suas vidas.

Diarreias, Infecções umbilicais e pneumonias são doenças que elevam em demasia o custo total de um animal de produção leiteira até seu primeiro parto.

As principais causas das diarreias no primeiro mês de vida das bezerras estão relacionadas, sem sombra de dúvidas, ao manejo inadequado, principalmente pelo relaxamento com as medidas básicas de higiene e desinfecções não consideradas prioritárias pelos responsáveis de cada setor nas granjas leiteiras.

As diarreias provocam grande perda de eletrólitos e de água pelas fezes e interferem reduzindo a ingestão de leite.

Trata-se de um processo que leva a uma forte desidratação, forte acidose metabólica e distúrbios eletrolíticos [geralmente diminuição de sódio (Na) e aumento ou diminuição de potássio (K)], aumento na concentração de lactato e balanço energético negativo provocado pela anorexia e à má absorção de nutrientes (LORENZ, 2004; 2005; CONSTABLE et al., 2005).

O maior risco de incidência ocorre nas primeiras 3 semanas de vida, nas quais há uma diversificação de agentes causadores das diarreias, o que dificulta seu controle e que segue aproximadamente a seguinte prevalência:

Bactérias:

- Escherichia coli: do 3º ao 5º dia (primeira semana). Diarreia antes do 6º dia de vida é típica na Escherichia coli. Pode ocorrer, entretanto, até os 30 dias. Geralmente em conjunto com rotavírus, coronavírus e/ou Cryptosporidium spp. A contaminação se dá por contato com toxinas ou pela invasão das células intestinais;

            - Salmonella spp: 14º dia (segunda e terceira semanas).

Vírus:

- Rotavírus/coronavírus: do 7º ao 14º dia (maior suscetibilidade das bezerras até 3 semanas de vida).

As infecções por coronavírus e rotavírus são bem dependentes da qualidade e do volume do colostro fornecido às bezerras e de contaminação conjunta com outros agentes, como E. coli e Cryptosporidium. O período de maior suscetibilidade a esses agentes contaminantes é do nascimento até a 3ª semana de vida.

BVD (diarreia viral bovina):

Acomete jovens e adultos.

Protozoários:

- Eimeria (coccidiose): ocorre frequentemente, do 10º ao 28º dia de vida das bezerras;

- Cryptosporidium: bezerros em período de amamentação.

Sintomas clínicos

Os sinais clínicos característicos observados normalmente são:

- Fezes de aquosas variando até consistência pastosa. Podem apresentar ou não estrias de sangue;

            - Fezes de coloração variando de esbranquiçada a amarelada e odor fétido;

            - Forte sinal de desidratação e emagrecimento rápido;

            - Região do períneo suja de fezes (em torno da cauda);

            - Inapetência e depressão;

            - Elevação da temperatura na fase inicial.

Casos de diarreia podem, muitas vezes, ser sucedidos por um quadro de pneumonia, dando origem ao que denominamos de pneumoenterite.

A sintomatologia ou os sinais clínicos específicos mostrados pelo animal podem, muitas vezes, servir com um indicativo do tipo de agente infeccioso envolvido. Não representam, entretanto, uma garantia para tal. Podem não ter relação com a sintomatologia apresentada.

Dentre os agentes causadores das diarreias teremos:

Escherichia coli: diarreia profusa, de coloração que varia de esbranquiçada a amarelada, consistência podendo variar de aquosa a pastosa.

A temperatura pode se apresentar normal ou elevada, o animal mostra sinais de desidratação, anorexia e olhos fundos. É possível, em alguns casos, a presença de muco e sangue nas fezes. Ocorre frequentemente até o 6º dia de vida das bezerras.

Salmonella spp: fezes aquosas inicialmente, seguidas de intensa diarreia sanguinolenta e desidratação. Nos casos de infecções por Salmonella typhimurium pode haver elevação da temperatura (febre) e depressão. Desenvolve-se rapidamente.

Apresenta quadro bem mais grave na forma septicêmica, terminando em óbito a poucos dias de iniciada. Alguns animais podem apresentar intensa dificuldade respiratória, seguida de morte.

Rotavírus: presença de fezes amarelas e fluidas, depressão, desidratação (olhos fundos e abdômen retraído). Os bezerros permanecem em pé, mas com dificuldade para mamar, rejeitam o leite.

Coronavírus: diarreia amarelada fluida, quase sempre com estrias de sangue. Os bezerros acometidos apresentam relutância em mamar, fraqueza e desidratação.

Diarreia Viral Bovina (DVB): diarreia aquosa bastante intensa, apresentando, algumas vezes, sangue e muco, febre, depressão e anorexia.

Cryptosporidium spp: desidratação, fraqueza, diarreia aquosa aguda ou crônica, apresentando ou não evidência de sangue. Não acomete animais com menos de 3 dias de vida.

Eimeria: diarreia, algumas vezes com estrias de sangue, desidratação, anorexia e perda de peso. A morte causada pela desidratação nos animais afetados pode ocorrer em poucos dias. Não acontece antes dos 15 dias de idade.

Pelo exposto, conclui-se que não é possível uma identificação confiável do agente infeccioso pela sintomatologia, uma vez que há muitos sintomas comuns a diferentes agentes.

O sucesso da elaboração de um programa ou protocolo eficiente para tratamento das diarreias está estritamente ligado à identificação correta dos agentes causadores do problema. Para essa tarefa deveremos proceder a coleta do material para exames em laboratório.

 

Uma vez que dispomos do material adequado para as coletas das amostras de fezes e swabs, não é nada complicado.

Material necessário:

- Copo coletor universal esterilizado: 3 unidades;

- Swab: cotonete de cabo comprido, acompanhado de tubo com meio de cultura Stuart para conservação da amostra até ao laboratório. Esse meio mantém a amostra viável até 30 dias, quando mantida refrigerada em geladeira;

- Luvas estéreis: 1 par;

- Tetrationato: 1 tubo com meio de cultura Tetrationato: específico para manter as amostras do material para a identificação de Salmonella.

A Salmonella é uma bactéria muito sensível, morre facilmente fora desse meio de cultura. O Tetrationato é extremamente importante quando se deseja coletar amostras para cultura da Salmonella.

Coleta das amostras:

- 1º material: inserir o Swab no reto do animal, cuidadosamente, para evitar contaminação, esfregar suavemente na mucosa interna do reto. Imediatamente depois da retirada, introduzir rapidamente no tubo com o meio de cultura Stuart que acompanha o Swab.

Obs.: o meio de cultura Stuart serve para conservar amostras para identificação de cepas de Escherichia coli causadoras de diarreias. Ele mantém as amostras viáveis até 30 dias, quando armazenadas em geladeira;

            - Identificar a amostra com os dados do animal logo em seguida;

- 2º material: específico para Salmonella. Procedimento utilizado quando houver suspeita de Salmonella, casos de disenteria em torno dos 20 a 30 dias, animais apresentando fezes com muito muco, sangue e bastante fétidas, febre e depressão, pois essa bactéria lesiona vasos intestinais, provocando perda de células através das fezes. 

Com o material próprio para coleta, executar a mesma técnica de coleta como no primeiro caso. Cuidar para que o swab com a amostra seja introduzido rapidamente no tubo com o meio de cultura Tetrationato.

OBS.: amostras para identificação de Salmonella devem ser enviadas para processamento, imediatamente após a coleta.

- 3º material: Copos coletores estéreis. Coletar as amostras de fezes diretamente do ânus do animal, distribuindo-as nos 3 copinhos.

*A primeira amostra para a identificação de Cryptosporidium, conservar em refrigeração por até 7 dias, no máximo.

*A segunda amostra para identificação de agentes virais, coronavírus e rotavírus, deve ser congelada para envio ao laboratório até o seu processamento.

*A terceira amostra para identificação de Eimeriose e de helmintoses, deverá ser processada, no máximo, até 2 dias depois de coletadas.

 

A principal deficiência no controle das diarreias está vinculada ao desconhecimento dos agentes causadores do processo.

Para se conseguir bons resultados e sucesso no controle das diarreias é imprescindível a identificação dos agentes causadores. Os índices de incidência, bem como a variedade de agentes causadores das diarreias nas diferentes propriedades não permite a elaboração de um programa padrão efetivo de controle. Sem a identificação dos agentes causadores naquela propriedade especificamente é impossível traçar um programa ou protocolo de controle efetivo. Os programas devem ser focados nas características dos agentes predominantes em cada propriedade.

 

Fatores de risco das diarreias no período neonatal:

- Baixo peso ao nascer: consequência de animais nascidos fracos, que não adquirem proteção imunológica suficiente;

- Animais nos quais há a ocorrência de outra doença concomitante até a segunda semana de vida;

            - Época do nascimento;

            - Condições de higiene;

- Taxa de lotação dos berçários.

A intensidade dessas formas de diarreia no período neonatal, dentre outros fatores ligados ao manejo, está na dependência da absorção do colostro. As maiores taxas de morbidade e de mortalidade, nesses casos, são observadas em bezerras com infecção intestinal e que não absorveram imunoglobulinas em quantidades adequadas via colostro (falhas na transferência da imunidade passiva), principalmente nos casos de:

            - Fornecimento inadequado ou consumo insuficiente do colostro;

            - Baixa absorção intestinal;

            - Colostro de baixa qualidade imunológica;

            - Filhos de vacas de primeira cria.

Como resultado observa-se, na maioria dos casos, um aumento das taxas de mortalidade até o primeiro mês de vida, principalmente quando as diarreias são agravadas por fatores nutricionais, fatores de estresse e condição social (convivência com grupos diferentes).

Diarreias alteram o mecanismo entre o fluxo de absorção e a excreção de líquidos e eletrólitos, resultando em perda de água e eletrólitos via intestinal, causando severo quadro de desidratação, aumentando a suscetibilidade dos recém-nascidos às contaminações bacterianas e elevando as taxas de mortalidade no período neonatal, até o primeiro mês de vida.

A mortalidade dos bezerros não ocorre por ação direta do agente causador do quadro diarreico, mas sim pelos efeitos da desidratação e da perda de eletrólitos.

Monitoramento

Uma das ferramentas de grande valia para avaliação e detecção precoce, e tratamento das diarreias é o monitoramento através do escore fecal associado à análise ou à avaliação do grau de desidratação das bezerras.

O escore fecal deve ser observado pelo menos duas vezes por semana e é classificado por escala variável 0 (zero) a 3 (três), como segue:

            Escore 0: fezes firmes e bem formadas, sem sinais de alterações.

            Escore 1: fezes um pouco pastosas e úmidas, com uma determinada forma.

            Escore 2: fezes pastosas, mais para aquosas, não apresentam forma definida.

            Escore 3: fezes líquidas, muito aquosas de acordo com a fluidez da água.

Paralelamente devemos observar também a região do períneo, ao redor da calda, que normalmente se apresenta suja nos casos de diarreia.

Além das observações no animal, devemos também observar as áreas próximas habitadas pelo animal, como as camas e o piso, por exemplo, que podem ser um bom indicativo de anormalidade pela presença de fezes líquidas, odores, fezes de coloração alterada etc.

Tópico 8

Tratamento

Como mencionado acima, a desidratação consequente das diarreias é a principal causa das elevadas taxas de mortalidade durante os primeiros 30 dias de vida das bezerras. Fato que justifica os cuidados com a reidratação como sendo a primeira medida para evitarmos não somente o óbito, como também tratarmos da recuperação dos animais acometidos de diarreia neonatal. Portanto, uma medida de interesse é procedermos ao monitoramento dos níveis de desidratação, que associado a outros fenômenos metabólicos relacionados, representa um alerta para adotarmos as medidas corretas, de acordo com o que exige a gravidade de cada caso.

Para a avaliação dos níveis de desidratação podemos adotar um procedimento simples, que consiste na observação do afundamento do globo ocular e do pregueamento da pele.

  1. Globo ocular retraído: observando a área inferior, logo abaixo do globo ocular, perceberemos uma retração mostrando certo afundamento. Pela abertura dos olhos, com auxílio dos dedos, poderemos observar facilmente essa retração. A constatação de afundamento do globo ocular é sinal característico de uma desidratação moderada, uma vez que no caso de desidratação leve não há esse tipo de afundamento.
  2. Pregueamento da pele: o tempo de retorno do pregueamento da pele ao normal depois de comprimida entre os dedos é outra prova para avaliar se o animal apresenta sinal de desidratação. Para tanto, basta fazer uma prega com auxílio dos dedos na região das bochechas e observar o tempo necessário, em segundos, para que a prega formada na pele volte ao normal. Se esse tempo for superior a 2 segundos significa que o animal já apresenta certo grau de desidratação.

Retração de globo ocular e pregueamento da pele com retorno ao normal em torno de 3-4 segundos representa casos de desidratação moderada.

Obs.: esse teste pode ser feito também na pálpebra superior ou nas duas áreas, para uma avaliação mais segura, se desejado.

  1. Temperatura nas extremidades: outro método para percepção do grau de desidratação consiste na avaliação da temperatura nas extremidades das orelhas ou dos membros locomotores.

Além das avaliações de temperatura nas extremidades deve ser verificada também a temperatura retal.

Extremidades frias e temperatura retal abaixo de 37 graus significa grau de desidratação intensa.

Reidratação oral

A reidratação por fluido terapia oral é uma ferramenta valiosa para reduzir drasticamente a grande taxa de mortalidade, consequente dos casos de diarreia neonatal. É a primeira linha de defesa quando se necessita salvar e recuperar os recém-nascidos acometidos desse mal. Muito prática e de fácil administração, não exige grandes conhecimentos técnicos e nem equipamentos especiais. Qualquer pessoa é capaz de praticá-la com sucesso.

A hidratação oral é realizada com drogas especialmente desenvolvidas para essa finalidade e podem ser administradas misturadas ou diluídas no leite, na água ou nos sucedâneos do leite, e fornecidas em baldes ou mamadeiras próprias para esse tipo de administração. Deve ser realizada, pelo menos, duas vezes ao dia.

Bezerras com diarreia não se alimentam adequadamente e necessitam, portanto, receber energia através dos suplementos hidratantes sob a forma de dextrose e, principalmente, de lactose como forma de energia (glicose).

Esses animais acometidos necessitam adicionalmente de alcalinizantes, uma vez que a desidratação gera alterações metabólicas no organismo, que resultam na muito conhecida acidose metabólica. A recomposição da perda de eletrólitos é outra necessidade gerada pela perda de líquidos do organismo.

Outro ponto importante, às vezes negligenciado nos tratamentos, é a necessidade de recomposição da flora intestinal, bem como estímulos ao bom funcionamento do sistema imune, prejudicado por danos às células intestinais e pela ação estressante da infecção.

Excelente solução para esses casos e muito importante para a recuperação dos animais é a administração de ENERLYTE® PLUS, por via oral, misturada ao leite, água ou aos sucedâneos do leite, duas vezes ao dia, durante dois ou mais dias, a critério do Médico Veterinário.

Enerlyte® Plus é um produto desenvolvido para atender às necessidades imediatas dos bezerros em estado crítico de desidratação, causada pelo processo diarreico, auxiliando na restauração do balanço eletrolítico. Trata-se de um suplemento completo e eficiente, principalmente, para a recuperação dos animais acometidos desse mal.

 Reidratação parenteral:

- Para os casos de desidratação severa ou grave, principalmente, nos casos graves de diarreia intensa, escore fecal grau 3 com intensa desidratação, alterações circulatórias, extremidades e pontas das orelhas frias e temperatura retal abaixo de 37 graus, se recomenda também o fluido terapia parenteral (injetável) e os cuidados de um Médico Veterinário.

Prevenção e tratamentos:

O uso da medicação hidratante não dispensa o uso de terapêuticos para o combate direto aos patógenos causadores das diarreias, como também não dispensa o uso do tratamento preventivo, através das vacinas que controlam as infecções bacterianas e virais causadoras das diarreias tão nocivas aos recém-nascidos e à economia da exploração. 

Para a profilaxia de vírus e bactérias, a vacinação das mães com Bovigen® V4J5 no momento da secagem, 60 dias pré-parto, acarreta melhor proteção pela transferência da imunidade passiva às bezerras através do colostro. Em primíparas, aplicar dose de reforço 21 a 30 dias após a primeira dose.  

Bovigen® V4J5 transmite proteção contra os vírus da Diarreia Viral Bovina tipo 1 e tipo 2 e contra as bactérias causadoras dos processos diarreicos E. coli (cepas K99 e J5) e Salmonella, principalmente.

Outra vantagem da vacinação com a Bovigen® V4J5 é que além das diarreias, ela protege também contra os problemas respiratórios comuns, a partir do primeiro mês de vida das bezerras, causados por vírus, como Parainfluenza tipo 3, VSRB, IBR tipo 1 e tipo 5, além das bactérias Mannheimia haemolytica e Pasteurella multocida, complicadoras dos processos respiratórios.

Para tratamento parenteral antibacteriano temos como opções de drogas injetáveis os produtos: TRIBRISSEN® INJETÁVEL, AGROPLUS®, SHOTAPEN®, RILEXINE® INJETÁVEL ou MAXFLOR®.

*Para mais informações sobre os produtos, vide as respectivas bulas.